Peru 2010 – Machu Picchu

Por do sol em Machu Picchu
Créditos: Wikimedia Commons.

As ruínas da cidadela Inca de Machu Picchu (na língua quíchua, significa “montanha velha”), no Peru, são o mais importante sítio arqueológico da América do Sul.

Descoberta em 1911 pelo explorador norte-americano Hiram Bingham, Machu Picchu é considerada uma das mais extraordinárias mostras da engenhosidade e da arquitetura paisagística dos Incas, com construções em pesados blocos de pedra talhados e alinhados com surpreendente perfeição. A cidadela foi encontrada em bom estado de preservação, situada sobre o platô de uma montanha em estrutura de granito a 2.400m de altitude, tendo ao fundo a montanha de Huayna Picchu, considerada sagrada pelos Incas. A cidadela está localizada na provincia de Urubamba, departamento do Cusco.

Completando a série de artigos sobre minha visita ao Peru, este artigo aborda as dicas turísticas para a ida a Machu Picchu. Artigos da série:

  1. Peru 2010 – Lima.
  2. Peru 2010 – Cusco.
  3. Peru 2010 – Volta ao Cusco em um Boleto Turístico.
  4. Peru 2010 – Machu Picchu. [este]

Existem vários meios para se chegar a Machu Picchu, a mais famosa ruína do Império Inca, também chamada “cidade perdida dos Incas”.

A pé O meio mais aventureiro é à pé, através da chamada Trinha Inca ou Caminho Inca. É o famoso percurso que começa no km 82 (alternativamente, no km 88) da ferrovia Cusco-Quillabamba, atravessa o canyon das montanhas acima da margem esquerda do rio Urubamba e chega até Machu Picchu depois de quatro dias de caminhada. É uma verdadeira maratona com cerca de 42km de extensão e altitude máxima de 4215 metros. Se este é o seu interesse, listo algumas referências a seguir. Não foi o meu caso.

Ferroviário Eu fiz opção por um meio turístico mais light, que é de trem. A empresa Peru Rail tem trens partindo das estações de Poroy (redondezas de Cusco), Ollantaytambo (Valle Sagrado) ou Urubamba, com destino à estação no povoado de Machu Picchu Pueblo (antiga Aguas Calientes), em diversos horários.

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Fonte: Perurail, Mapas de Itinerário: Cusco – Valle Sagrado – Machu Picchu.

Trem Os trens disponíveis no percurso são o econômico Expedition (“Backpacker” ou “Mochileiro”), o luxuoso e sofisticado Hiram Bingham, e o turístico Vistadome. Optei por este último, que oferece vagões com amplas janelas e teto panorâmico para curtir a bela paisagem no caminho, ar condicionado e assentos confortáveis, a um preço intermediário.

As passagens da Perurail podem ser compradas diretamente no site da empresa pela internet, com cartão de crédito internacional. Ao comprar, esteja de posse do número de seu passaporte (ou outro documento válido) que apresentará para embarcar. Escolha o itinerário, trem, dia e horário. Depois basta imprimir e levar os tíquetes individuais com código de barras.

Se você precisar de algum ajuste de última hora, existem agências da Perurail bem na Plaza de Armas em Cusco, no Centro Comercial Larcomar e no Aeroporto Internacional em Lima, dentre outros. Eu por exemplo troquei de assentos (para sentar junto com minha companheira) na agência de Cusco, pois pela internet não consegui escolher assentos contíguos.

A viagem de trem para Machu Picchu leva cerca de 4 horas partindo da Estação Poroy, 3h partindo da Urubamba, ou 2h partindo de Ollantaytambo.

Algumas pessoas optam por fazer um passeio turístico de ônibus ou carro partindo de Cusco rumo às cidades e ruínas do Valle Sagrando até Ollantaytambo, e de lá tomam o trem para Machu Picchu.

Eu preferi sair de Cusco. Na verdade, a Estação Poroy é no vilarejo a cerca de 40 minutos de carro do centro de Cusco. Consegue-se facilmente taxi para fazer os trechos de ida e volta entre Cusco e Poroy.

Para quem sai de Cusco rumo a Machu Picchu e depois retornará a Cusco, como foi meu caso, minha dica é levar apenas uma pequena mochila com roupas e acessórios necessários. Os hotéis em Cusco costumam oferecer guarda-volumes gratuito para que você desocupe o quarto e deixe lá as malas enquanto estiver fora.

Hospital É essencial ter um bom repelente de mosquitos em Machu Picchu. Os mosquitos por lá são muitos e picam para valer. Sugiro comprar nas farmácias em Cusco, deve ser mais barato que em Machu Picchu.

Também é essencial hidratar-se com água ou isotônico nas horas de passeio a pé pelas ruínas, e mais ainda se for fazer a escalada da montanha Huayna Picchu. Pode-se levar uma garrafinha (de preferência com bico tipo “squeeze”) ou cantil.

Montanha O clima de Machu Picchu é chuvoso durante todos os meses de verão (dezembro a março). Entre maio e setembro, não são raros chuviscos. As temperaturas máximas alcançam 27º C, enquanto as mínimas raramente descem de 11º C.

Em agosto, estava um tempo estável, aberto e agradável, ligeiramente frio em torno de 15º C.

Cusco – Machu Picchu – Cusco em 39 horas

Meu roteiro:

  1. Dia 26 às 5h da madrugada: saída de Cusco de taxi para a Estação de Poroy. Tempo de percurso: em torno de 40 minutos.
  2. 06h23 da manhã em Poroy: embarque no trem Vistadome.
  3. 06h53 da manhã: Partida do trem Vistadome rumo a Machu Picchu.
  4. ~11h da manhã (aprox.): chegada a Machu Picchu Pueblo. Passagem obrigatória pela feira de artesanato que cerca a estação de trem. Buscar hotel e instalar-se.
  5. ~13h: compre a entrada para Machu Picchu e a passagem do ônibus de ida (preços tabelados). Almoçar (barganhe o preço) e depois passear pelo pequeno povoado.
  6. ~18h: jantar ou lanche leve e vá deitar cedo. Se quiser tomar um dos primeiros ônibus para Machu Picchu, terá que madrugar. Informe-se e deixe tudo pronto para sua saída do hotel.
  7. Dia 27 ~3h da madrugada: faça o checkout e vá para a fila do ônibus.
  8. ~5h: início da partida dos micro-ônibus rumo ao Parque Arqueológico de Machu Picchu.
  9. ~5h30: fila para a entrada do Parque Nacional. Organizadores passarão carimbando as entradas daqueles que quiserem subir em Huayna Picchu. Enquanto espera, aproveite para se deslumbrar com o suntuoso hotel Machu Picchu Sanctuary Lodge (diárias em torno de US$ 1 mil!).
  10. ~6h30: entrada. Pegue um mapa. Provável que a neblina ainda cubra tudo.
  11. ~7h até as 10h: explore as ruínas da cidade, planejando-se para chegar à entrada para Huayna Picchu em torno das 10h. Descanse um pouco.
  12. ~10h30: entrada e início da escalada para Huayna Picchu. Muito cuidado, tranquilidade e, principalmente, fôlego!
  13. ~11h30: chegando ao topo, descanse bastante e curta a a paisagem deslumbrante.
  14. ~12h30: prepare-se para iniciar a descida. Muita calma, cuidado e Deus ajude seus joelhos.
  15. ~13h30: retorno à entrada do Parque. Na saída, não esqueça de carimbar seu passaporte com o carimbo turístico de Machu Picchu.
  16. ~14h: ônibus de volta ao Pueblo. Há ônibus chegando e retornando com frequência.
  17. ~14h30: almoço e retorno à Estação de trem.
  18. 15h30: embarque no trem Vistadome.
  19. 16h00: partida do trem Vistadome rumo a Cusco.
  20. Dia 27 ~20h: chegada à Estação Poroy. Tome um taxi para Cusco.
  21. Espero que tenha um bom retorno e uma ótima e merecida noite de descanso!

Machu Picchu Pueblo (antiga Aguas Calientes)

Ainda de dentro do trem Vistadome, numa pequena parada de manobra já quase chegando ao destino, foi possível avistar a montanha Huayna Picchu pelo teto panorâmico do vagão.

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A pequena Machu Picchu Pueblo, antigamente chamada Aguas Calientes, é estação final do trem vindo de Cusco e Ollantaytambo e povoado mais próximo do parque histórico. É praticamente uma base de apoio do destino final, onde mochileiros e turistas em geral encontram onde comer e repousar e se preparam antes de entrar no parque arqueológico de Machu Picchu.

Ao norte da cidade (800m do centro do povoado) existem as fontes de águas termais sulfurosas quentes (entre 38° e 46°C) que emergem do solo rochoso, com poços com uma infraestrutura para banhos termais. Mas quem já foi disse que não vale a pena, então nem me dei ao trabalho de conhecer.

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Créditos: Editado da imagem postada por moriel.sp em Mochileiros.com.

Outros mapas: em Moon.com – Avalon Travel (download em alta resolução) e em PeruRail (esquemático).

O trem de passageiros da Peru Rail chega na estação final à margem sudeste do rio, e ao sair da estação você é obrigado a atravessar o labirinto de estandes do mercado de artesanato até chegar à margem do riacho Aguas Calientes, pequeno afluente do rio Urubamba, que deve ser atravessado por uma das pequenas pontes existentes.

O povoado fica espremido entre o rio Urubamba, seu pequeno afluente, e as montanhas à volta. É repleto de hotéis e hospedarias, restaurantes, bares e cafés em ruelas estreitas e sinuosas. No entorno da praça há também uma capela, uma farmácia, um posto de informação turística (iPeru). Sem lugar para expansão, as construções do povoado se estendem ao longo das margens da linha de trem de carga.

Hotel São poucas as opções de hotéis confortáveis em Machu Picchu Pueblo, mesmo porque a maior procura é por hospedarias e hoteizinhos simples que sirvam de pouso para mochileiros com dinheiro curto e para turistas que querem apenas tomar um banho e passar uma noite antes de ir a Machu Picchu, sendo este último o meu caso.

Como eu iria apenas passar uma tarde e uma noite na cidade, e lá pelas 3 da madrugada já iria para a fila do ônibus para o parque histórico, não gostei das poucas opções de hotéis que encontrei na internet: ou eram demais para minha curta estada, ou pareciam suspeitas para arriscar. Deixei então para buscar uma opção diretamente quando chegasse em Cusco.

Comprei na própria agência de turismo em Cusco — onde fechei os passeios — uma diária por US$ 30 (adiantados) no hotelzinho “Oro Verde” (Av. Prolong. Imperio de los Incas, s/n), mas me arrependi. Primeiro, o hotel fica literamente à beira da linha do trem: além de ser super perigoso transitar por ali, dia e noite há baraulho e trepidação de trens passando. A calçada estreita é tudo que separa as edificações da linha do trem, sem nenhuma proteção, e para ir do hotel ao centro do povoado obrigatoriamente tem-se que cruzar os trilhos a pé. Além disso, o que pareceu ser o único funcionário do hotel custou uma eternidade a nos ouvir esmurrando a porta de entrada trancada e vir abrir, quando chegamos cansados da viagem de trem e da busca pela localização do hotel. Por fim, eu não esperava luxo e conforto, mas encontramos até toalhas rasgadas, tudo empoeirado e chuveiros quebrados.

O povoado tem muitos hoteizinhos. Se você quiser apenas uma noite de pouso, deve haver uma opção de hospedagem que lhe agrade no custo-benefício, mas como eu quebrei a cara nesse quesito, vou ficar devendo uma indicação boa.

Hotel Em volta da praça e na ladeira que sobe na saída nordeste desta — Passando pelo iPeru –, chamada “Avenida” Pachacuteq, estão a maior parte dos restaurantes.

À noite da chegada, jantei um menu turístico em um restaurante da calle Antisuyo ao sul da praça, após pechinchar o preço na entrada. No almoço voltando de Machu Picchu, na Av. Pachacuteq comi uma boa pizza e jarra de limonada no Chez Maggy, a mesma pizzaria que existe em três endereços em Cusco.

Parque Arqueológico da Ciudad Inca de Machu Picchu

Passagem de ônibus e entrada do parque em mãos? Sigamos!

Ônibus Quando chegamos ao ponto do ônibus para Machu Picchu, na rua às margens do riacho Aguas Calientes, lá pelas 3 e meia da madrugada, já havia dezenas de pessoas na fila e vários micro-ônibus estacionados. Ali algumas lojinhas de conveniência ficam abertas 24 horas.

Dizem que os portões na base do morro são liberados primeiro para os andarilhos que quiserem subir à pé. Lá pelas 5 da madrugada, depois de quase duas horas de espera sentado no passeio, os micro-ônibus começaram a sair em sequência. Embarcamos no terceiro.

O ônibus gasta em torno de 20 minutos para percorrer rapidamente o trajeto que primeiro margeia o rio Urubamba e, depois de atravessá-lo, toma a sinuosa estrada de terra em ziguezague com 13 curvas em “U” que sobe 400 metros de altitude pela encosta até a entrada do parque arqueológico.

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Fonte: Google Mapas, 2011.

Saindo do ônibus, já se entra na longa fila que começa do lado de fora da portaria e se estende ao lado do hotel Machu Picchu Sanctuary Lodge. Organizadores do parque percorrem a fila carimbando as entradas das 200 primeiras pessoas que quiserem subir a montanha de Huayna Picchu, 100 para entrar no horário de 7 a 8h e mais 100 para 10 às 11h. Às 7h ainda está muito enevoado, então preferi o horário mais tarde, que felizmente ainda estava disponível quando chegou a nossa vez.

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Nossas entradas para o Parque Arqueológico da Ciudad Inca Machupicchu carimbadas com autorização de subida da montanha sagrada Huayna Picchu no horário de 10 a 11h.

Ruína Pouco depois a entrada é liberada. Você contorna uma trilha inicial e dá de cara com as maravilhosas ruínas, com a montanha de Huayna Picchu ao fundo.


Fonte: Turismo Peru – Machu Picchu – Mapa interativo.

A montanha sagrada Huayna Picchu

Montanhismo Huayna Picchu ou Wayna Picchu (também na Wikipedia em espanhol e em inglês) é a montanha sagrada dos Incas.

A subida da montanha é permitida em dois horários, às 7 e às 10 da manhã, cem pessoas em cada horário, previamente autorizadas na fila de entrada do parque.

Para a subida e descida, é essencial estar calçando tênis ou sapato firme e confortável para caminhada, com solado que não derrape, e calça (prefiro do que bermuda, pois protege a perna de mosquitos e vegetação) que permita flexibilidade de movimento.

A trilha é íngrime e sinuosa, cheia de pedras (que podem estar escorregadias) colocadas como degraus em boa parte da encosta. Em vários trechos mais difícies, foram instalados grossos cabos de aço para servir de corrimão. Cuidado e atenção nunca são demais.

O visual das ruínas de Machu Picchu e do entorno, no alto, é incrível! Mas no fim da manhã, em geral o cume de Huayna Picchu está tão lotado que talvez você não consiga acessar alguns pontos do topo. Realmente o limite de pessoas é necessário.

Se você (como eu) não é um atleta ou trilheiro experiente, reserve em torno de três horas para esse desafio, sendo uma hora para subir (e haja fôlego e ânimo!) ao topo, uma hora para apreciar a vista e descansar, e uma hora (e haja joelho e calma!) para descer. No meio do caminho existe uma trilha alternativa para o Templo da Lua, mas deixo essa aos “pros”, eu não encarei.

E para ficar registrado:

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As ruínas da cidade de Machu Picchu vistas do alto da montanha sagrada Huayna Pichu.

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Na descida da trilha de Huayna Picchu de volta a Machu Picchu, foto do marco geodésico pisado por meu pé empoeirado, doído, cansado e muito feliz e satisfeito!

Para saber mais: